Lugar de mulher é na quadra – um relato pessoal

Estava no meio do campeonato, aquela correria para separar uniforme, ver quem ia jogar, saber se teria grana para pagar a arbitragem e se teria carro para levar os jogadores… Coisas da vida de uma técnica.

Chegamos ao clube, os meninos entraram em quadra e o jogo começou… Parecia tudo normal, até o momento em que fui tratada como uma mulher!

Estava indo ao intervalo do jogo, os meninos voltando para o banco, o árbitro parou na minha frente, que estava em pé, olhou para o lado, o professor que trabalha comigo estava sentado. Olhou para ele e os dois começaram a conversar, o árbitro dizendo que o time podia melhorar em determinadas situações, elogiando em determinados momentos e percebendo a inexperiência em quadra. Em nenhum momento ele olhou para mim. Eu era a técnica, eu estava em pé, eu era a pessoa que ele poderia falar tudo isso (sem menosprezar meu querido colega), mas eu…era mulher.

Olhei para o lado e me vi única, em uma quadra com mais de 20 homens entre jogadores, árbitros e mesários. Respirei fundo, lembrei o que me fazia ser diferente, pensei que era uma sorte poder liderar uma equipe e quebrar o padrão.

Peguei a minha prancheta e continuei o meu trabalho. Daquele dia em diante, deixei de sentir vergonha por fazer parte da minoria, na verdade quando vi o preconceito bater em minha porta, eu só pude sentir orgulho de ser quem sou. Afinal, lugar de mulher é onde ela quiser!

(*) Sarith Anischa é técnica de basquetebol

Imagem: Divulgação