‘O nosso lado da bola’, por Sarith Anischa

Quer mudar o cenário do basquete feminino? Comece por você… Tenho visto várias ações feitas pela Liga de Basquete Feminino (LBF), desde um campeonato mais “parrudo” até levar o basquete para as escolas, projeto encabeçado pela ex-jogadora Janeth Arcain. Entendo que o caminho esteja correto, contudo acho que vai mais além.

O basquete tem que pertencer às aulas de Educação Física (como qualquer outra modalidade), mas tem que ser ensinado com vontade, o professor não pode dizer que existem atividades que não são para meninas. Ser professor é uma função muito importante na vida das crianças, mostre amor pelo esporte, só assim ele nascerá dentro delas.

Se durante a aula ela for a única interessada dê valor a isso, é dessa forma que sentirá vontade de voltar. Se outras não querem jogar, mostre que a modalidade tem seu valor, que é uma atividade que auxilia de diversas formas, desde a coordenação motora até o gasto calórico. Mostre o grau de complexidade na execução de um arremesso, em uma passada de bandeja e como é indescritível fazer uma cesta! Não há forma mais direta de incentivar uma criança a não ser durante a aula de Educação Física.

Outro ponto, não menos importante é a quebra que tem que haver da nossa parte em relação a participação; sem que nos coloquemos como mais fracas, menos coordenadas, que entendem menos da modalidade porque isso não é verdade. O aprendizado acontece por repetição, existe um tempo de entendimento e maturidade quando falamos de execução de movimentos, então se você tem vontade de aprender, quebre a primeira barreira e jogue em parques, escola, em qualquer lugar!

Leia sobre a modalidade, conheça as regras, entenda o que está acontecendo no mundo do basquete, existem vários sites, Youtuber´s e páginas no Facebook que ajudarão bastante. Faça a lição de casa, pegue uma bola e treine incansavelmente, só assim os movimentos ficarão automáticos. Não tenha vergonha de jogar, pelo contrário, tenha orgulho, porque não é nada fácil (mesmo que pareça).

Portanto, quer mudar o cenário do basquete? Comece por você… Não trate um time como um grupo qualquer, respeite suas colegas, seu técnico, faça além das expectativas, leve o jogo a sério, ofereça o seu melhor, seja diferente!

Saia das estatísticas, mude a cabeça, mude o jogo, seja o jogo!

Pedimos igualdade, mas vejo muitas vezes que não fazemos a nossa parte, temos que lutar pelo nosso espaço, por salários dignos, por mais mulheres no basquete. Esse cenário frustrante que vivemos não mudará sozinho, mas se não sairmos de nossos celulares, não nos movimentarmos, não usarmos nossa voz, nossa força, dificilmente alguém fará por nós!

Sejamos a sociedade que luta pelo feminismo, como diz Ruth Manus: “lutar pelo feminismo é lutar pela igualdade”. Vamos à luta!

Vamos participar das escolinhas, dos jogos de 3×3, vamos aos ginásios com o intuito de ver o espetáculo, aprender e ensinar as regras, lutar para ter roupas de basquete e tênis apropriados para mulheres, escolher um time da NBB, LBF e um da NBA pra torcer, vamos explicar porque (também) respiramos basquete! Talvez um dia (quem sabe) passaremos por uma quadra e veremos essa equidade que tanto merecemos.

(*) Sarith Anischa é técnica de basquetebol

Foto: Divulgação
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