por Marcel de Souza

Marcel de Souza
Marcel de Souza

De Bandeja: O nosso querido Juarez Araújo é o precursor do que chamamos hoje um jornalista especializado em basquete. Sim, porque eu já dei entrevista até para a Regina Echeverria quando ela iniciava sua brilhante carreira jornalística e foi cobrir o mundial de Porto Rico em 1974.

Juarez começou na mítica “A GAZETA ESPORTIVA”, onde escrevia sobre os grandes duelos daquela época e continua, desde então, como um jornalista de basquete. Ele tem muita história prá contar. Vocês aí que estão torcendo o nariz para ele, fazendo críticas veladas ao seu trabalho, saibam que Juarez, numa época em que era muito difícil viver de basquete, foi o “pai de todos vocês” e plantou as raízes da árvore, que hoje lhes dá frutos.

É DURA A VIDA DO ARTISTA
Continuando com o assunto Juarez, ele foi o primeiro a me convidar para escrever um artigo na sua revista “SUPERBASQUETE”, coisa que fiz com grande prazer por muito tempo.

Dia desses, topei com os rascunhos desses artigos e dei muitas risadas, porque desde sempre fui muito crítico em relação ao jogo e muitas das minhas análises ainda resistem ao tempo (prova concreta de que o nosso basquete pouco mudou).

De qualquer maneira sempre me deu prazer escrever sobre basquete. Até o dia em que começaram a me pagar por isso.

Pois é, a partir do momento que esta prazerosa atividade virou algo em que se podia perceber algum benefício financeiro (mesmo que sazonal e pontual), a prática não remunerada da mesma passou a ser por mim encarada como uma obrigação.

Por isso me é difícil manter a frequência em oferecer-lhes esta “CESTA QUE SÓ CAI AOS SÁBADOS” e peço que me perdoem as faltas.

Quero também que saibam me ser difícil escrever, pois como não tenho lá muita prática, meus textos são sofridos de parturir e requerem revisões infinitas.

Portanto, compreendam se a cesta não cair no sábado com a frequência devida.

O ÚLTIMO HERÓI
Kobe se retira no mesmo dia em que o Golden State se define como o melhor time da temporada, da década, do século e talvez de toda a história da NBA.

Kobe leva com ele a época do basquete do herói, do jogador franquia, do homem da última bola, do ídolo de gerações.

O Golden State inaugura uma nova era e muda a história do basquete como conhecemos.

Jogadores aparentemente comuns, dirigidos por um técnico sem carisma algum, sem líder, sem jogo coletivo visando dar volume ao jogador herói e seu escudeiro, mas como uma eficiência até hoje descabida de jogadores que têm prazer em exaltar seus companheiros sem cair na mesmice do famoso jogo coletivo.

Kobe encerra um jogo conhecido por nomes de jogadores que o levaram a níveis cada vez maiores: George MIkan, Bill Russell, Jerry West, Wilt Chamberlain, Oscar Robertson, Kareen Abdul-Jabbar, Julius Irving, Earving Johnson, Larry Bird, Shaquille O’Neal, Michael Jordan, Lebron James entre outros.

O Golden State, com seus discretos, aparentemente normais jogadores iniciam um novo jogo, que até agora não conseguimos definir qual seja porque nossos parâmetros de controle e de análise apenas indicam um nível de eficiência absurdo, com números que beiram o improvável para esse jogo.

Assistir ao Golden State é entrar numa viagem ao imponderável, pois as soluções ofensivas e defensivas a que estamos acostumados não se aplicam.

Nem tentem, por ora, entender o que acontece quando esse time joga.

Apenas relaxem e se deixem levar…

REDUÇÃO SIMPLISTA
Prá quem me acompanha aos sábados na REDE TV! já sabe, mas não custa aqui insistir. É claro que é muito simples falar em detalhes, pois qualquer atividade em que se jogue por vitória e derrota os detalhes contam muito.

Portanto, justificar a derrota com a famosa frase “perdemos por detalhes”, além de fora de moda é redundância.

Entretanto, os que gostam de definir o jogo através de números, hão de convir comigo que a também famosa frase de Byra Bello: “Lance-livre ganha jogo” é ainda muito válida para o nosso basquete de hoje e sempre.

E também não adianta torcer o nariz para o Bello. Seus comentários são precisos e ele presta um grande serviço ao nosso basquete.

O que insisto e também concordo com a sua frase é que o descaso para com o ensino do fundamento de lance-livre por aqui é muito sério e nos traz muito prejuízo na ponta da linha.

Fanáticos por definirem o bom basquete através dos números! Peguem os resultados dos nossos piores momentos de nossa seleção masculina e examinem os valores desse fundamentos!

Eia! Sus! Corram! Vejam as nossas campanhas em mundiais e pré-olímpicos a a partir de 1997!

Vejam que não teríamos a mesma história se esse fundamento fosse levado em consideração na formação de nossos atletas.

O lance-livre é o único momento do jogo que não muda em qualquer lugar ou situação que seja utilizado.

É sempre a mesma coisa seja em jogos, treinos, lugares, campeonatos, época do ano, enfim, se tem uma coisa que precisa ser treinada à exaustão, essa é o fundamento do lance-livre.

Quando eu iniciei minha jornada na seleção brasileira, em 1973, o jogador mais veterano me disse que eu seria incapaz de acertar dez lances-livres seguidos.

Tinha razão.

Já naquela época, meu pai havia levado dois anos para me corrigir nesse fundamento.

Corta para 1990, em um treino antes do jogo no mundial da Argentina, esse mesmo jogador veterano era agora o nosso técnico e me viu acertar 209 lances-livres seguidos.

Isso requer uma vida de treinamento desse fundamento.

Caros técnicos formadores pensem nisso e me digam o motivo pelo qual o fundamento de lance-livre é tão negligenciado na nossa formação.